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Eleição Americana 2024: Trump vs. Kamala e o Complexo Sistema Eleitoral Americano

Imagine que você está em uma partida de futebol. No campo, temos dois jogadores principais: de um lado, o ex-presidente Donald Trump, e do outro, a vice-presidente Kamala Harris. Porém, ao invés de um juiz centralizado que decide quem ganha pelo número de gols, existe um conjunto de regras peculiares que tornam essa competição bem diferente de qualquer jogo normal. Este é o “sistema eleitoral americano”: uma estrutura complexa que decide, por meio de um colégio eleitoral, quem ocupará a presidência. Vamos descomplicar esse sistema para entender o que está em jogo e quais são seus prós e contras.
Como Funciona o Sistema Eleitoral Americano?
Em muitos países, as eleições presidenciais são diretas: o candidato que recebe mais votos da população vence. Mas, nos EUA, a história é outra. Lá, o voto da população não decide diretamente o presidente — o que realmente importa é o número de votos conquistados em algo chamado Colégio Eleitoral.
- O Colégio Eleitoral em Ação:
Cada estado americano tem um número específico de “eleitores” no Colégio Eleitoral, proporcional ao seu número de habitantes. Quanto maior a população do estado, mais “pontos” ele vale. Estados como Califórnia e Texas, por exemplo, têm muito mais eleitores no Colégio Eleitoral do que estados menores, como Vermont ou Wyoming. - Vencedor Leva Tudo:
Na maioria dos estados, o sistema é de “winner-takes-all” (vencedor leva tudo). Isso significa que o candidato que ganha a maioria dos votos da população em um estado leva todos os votos eleitorais daquele estado. Assim, se Trump vence por um pequeno percentual na Flórida, ele recebe todos os votos eleitorais da Flórida, o que lhe dá uma grande vantagem. Isso cria um jogo de estratégia, onde cada candidato precisa focar em ganhar os estados mais “valiosos” em termos de votos eleitorais. - Quem Decide o Presidente?:
Para vencer a eleição, um candidato precisa de 270 dos 538 votos eleitorais disponíveis. Isso significa que, mesmo que um candidato tenha menos votos da população, ele pode ganhar se conquistar os estados certos. Esse é o ponto onde o sistema fica intrigante – um candidato pode perder no voto popular (o total de votos da população) e, ainda assim, vencer a eleição no Colégio Eleitoral. Esse foi o caso de Trump em 2016, quando ele venceu no Colégio Eleitoral, mas perdeu no voto popular para Hillary Clinton.
Analogia: Um Campeonato Nacional Desigual
Imagine um campeonato nacional de futebol, onde nem todos os times têm o mesmo peso para decidir quem será o campeão. O estado do Texas, por exemplo, seria como um time que, ao vencer, oferece mais pontos para o ranking do que um time do estado de Rhode Island. Isso cria uma desigualdade estratégica, onde é mais vantajoso focar em vencer em estados-chave do que obter votos em todos os lugares. Isso afeta muito a campanha dos candidatos, que acabam se concentrando nos chamados “swing states” — estados onde a disputa é acirrada e que podem pender para qualquer lado.

Prós e Contras do Sistema Eleitoral Americano
Prós
- Proteção das Minorias Regionais:
O sistema do Colégio Eleitoral foi projetado para dar voz a todos os estados, grandes e pequenos, de forma que não fosse apenas a população das grandes cidades que decidisse o futuro do país. Ele busca evitar que estados com menos habitantes, como os rurais, sejam ignorados em campanhas eleitorais. Dessa forma, os candidatos precisam fazer campanha em diferentes regiões, e não só nas maiores cidades. - Estabilidade no Processo Eleitoral:
Em tese, o Colégio Eleitoral evita que candidatos só foquem em uma única região do país. Ao precisar de votos em múltiplos estados, eles são forçados a adotar uma estratégia de alcance nacional, levando em consideração a diversidade do país.
Contras
- Voto Popular vs. Colégio Eleitoral:
Talvez a maior crítica ao sistema é a possibilidade de um candidato ganhar no voto popular e, ainda assim, perder no Colégio Eleitoral. Isso leva alguns eleitores a se sentirem desmotivados, acreditando que seu voto não tem valor se estiver em um estado onde a vitória já parece certa para um candidato. Por exemplo, se você é democrata na Califórnia, um estado fortemente azul, seu voto pode parecer menos impactante do que em um estado onde a corrida é mais acirrada, como a Pensilvânia. - Foco Excessivo nos “Swing States”:
O sistema faz com que candidatos concentrem a maior parte de seus recursos e promessas nos estados onde a disputa é equilibrada. Se você vive em um “estado seguro” (onde o resultado é previsível), é possível que o candidato nem se preocupe em fazer campanha lá, o que diminui a representação de sua voz. - Distorção da Representatividade:
Estados menores, com menos habitantes, acabam tendo uma representatividade maior no Colégio Eleitoral em comparação com sua população. Isso porque, independente de seu tamanho, cada estado tem pelo menos três eleitores. Assim, estados pouco populosos têm proporcionalmente mais peso do que um estado como a Califórnia, onde cada voto individual conta menos em comparação.
Exemplos Históricos do Sistema em Ação
O sistema do Colégio Eleitoral já influenciou os resultados de várias eleições. Em 2000, George W. Bush venceu Al Gore por uma pequena margem no Colégio Eleitoral, mesmo com menos votos populares. Em 2016, o mesmo aconteceu com Trump, que perdeu no voto popular para Hillary, mas venceu no Colégio Eleitoral.
Esses exemplos mostram como o sistema pode produzir resultados inesperados, onde o “campeão” não necessariamente representa a preferência da maioria dos eleitores. Isso traz questionamentos sobre a justiça e a representatividade do Colégio Eleitoral.
O Futuro do Sistema Eleitoral Americano
As discussões sobre reformar ou até mesmo abolir o Colégio Eleitoral têm ganhado força. Críticos argumentam que, em uma democracia moderna, deveria vencer o candidato que tem a maioria dos votos, e não apenas aqueles que ganham em estados específicos. Por outro lado, defensores dizem que o Colégio Eleitoral ajuda a balancear o poder entre os estados e que mudanças podem prejudicar a representação das regiões menos populosas.
A disputa entre Trump e Kamala Harris promete ser um espetáculo para o sistema eleitoral dos EUA, colocando em prática todas essas regras e estratégias do Colégio Eleitoral. Independente de quem vença, o sistema estará no centro das atenções, mostrando novamente como a política americana tem suas próprias regras de jogo – um jogo onde cada estado tem um papel único e o placar final pode surpreender a todos.
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